Socorro é uma das raras cidades do Estado de São Paulo, onde ainda se tem congada[1]. A última congada tradicional da cidade corresponde a uma irmandade de fé em louvor a São Benedito e Divino Espírito Santo, que realiza ao menos duas vezes por mês um cortejo pelas ruas da cidade até chegar à Praça da Matriz, onde eles dançam, cantam, “tramam”, ou seja fazem evoluções trocando de lugar, até chegar ao momento mais bonito do espetáculo, que é a hora da “Embaixada”. Uma dança-luta ritmada pelos sons das espadas, ou “porretes” de madeira dos congos vestidos com mantos azuis lutando contra os que usam mantos vermelhos.

 Alguns estudiosos como Alceu Maynard Araújo afirmam ser a congada na sua gênese um auto dos negros escravos brasileiros, cuja razão de ser seria transferir, sublimar o instinto guerreiro do negro em fator criador, religioso : negro cristão, versus negro pagão.

Na congada tradições religiosas ibéricas, pagãs, afro-tribais, são mescladas num processo de aculturação. Inspirada no poema épico “La Chanson de Roland”, que narra o fim heróico de Rolland, sobrinho de Carlos Magno, recitado deste a Idade Média, a Embaixada na Congada narra um fato que embora histórico, o acontecimento que ele conta é retratado sem fidelidade histórica e reflete a diversidade cultural brasileira.

Com o objetivo de perenizar esse patrimônio imaterial de Socorro, foi realizado na cidade o projeto “Fitas e Flores”, compreendendo oficinas dirigidas ao público estudantil sobre o tema, 8 apresentações públicas da congada, entrevistas de Mestres como Mestre Vicente Ferreira e contra-Mestre Iraci, Mestre Moisés Franco (antes da sua morte em outubro 2012), Mestre Maciano, Mestra Dona Leonor (coordenadora do projeto “Congada nas Escolas”), de congos e anciãos. O projeto envolveu ainda registro musical em estúdio do repertório cantado na congada, transcrição das letras destas músicas e elaboração de partituras, filmagem e reportagem fotográfica do conjunto do projeto, e por fim a publicação deste livro, com um CD e um DVD encartados. Quando o projeto iniciou, em maio 2013, a congada estava sofrendo um processo de dispersão, graças a ele consolidou-se a união dos seus membros, revigorando neles o espírito de solidariedade, que sempre foi característico das congadas.

 A Congada de São Benedito e do Divino Espírito Santo da cidade de Socorro, tem como Mestre Sr. Pedro Cezar, Rainha Dona Neuza e o Rei do Congo o Sr. Benedito, ela é a última congada tradicional da cidade. Formada na sua origem essencialmente por congos provenientes de congadas de diferentes bairros da cidade, que foram desaparecendo pouco a pouco, e como reflexo do projeto “Fitas e Flores”, hoje novos membros vieram fortalece-la, inclusive jovens e crianças.

O DVD “Fitas e Flores”, encartado neste livro, contém um curta-metragem documental de 15 minutos, no qual, ao lado das imagens emocionantes que nos deixou em herança o Mestre Moisés Franco, antes de falecer em outubro 2012, Congos, Rainha, Rei, e diversos Mestres constroem com seus testemunhos a história viva da Congada de São Benedito e Divino Espírito Santo da cidade de Socorro conhecida também como “Morena da Fronteira” por se encontrar na divisa estre os Estados de São Paulo e de Minas Gerais.

O CD “Fitas e Flores”, traz músicas do repertório dos Mestres Vicente Ferreira, José Maciano, Moisés Franco e Pedro Cezar, interpretadas por eles, pelos Congos da tradicional Congada de São Benedito e do Divino Espírito Santo da cidade de Socorro., com participação especial das crianças das Congadas do Bairro dos Rubins e do Bairro do Oratório desta cidade.

A Congada de São Benedito e do Divino Espírito Santo é uma manifestação tradicional própria da cultura socorrense, patrimônio imaterial que pertence a todos os brasileiros, e que estava prestes a desaparecer.  Resgatar, transmitir o seu conhecimento ancestral para as novas gerações e dar continuidade a ela, fortalece as “Fitas e Flores” do nosso imaginário popular, promovendo a valorização da cultura caipira paulista.