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ITC é co-editor do livro que serviu também de catálogo para a exposição da pintura restaurada “Hymeneus Travestido Assistindo a uma Dança em Honra a Príapo”, pintado entre 1634 e 1638 pelo francês Nicolas Poussin (1594-1665). A obra integrou o segmento A Arte do Mito na exposição, que em setembro 2009 reuniu também peças da coleção do museu. Ao lado da pintura eram projetadas imagens e vídeos que contavam o processo da restauração, que contou com equipes da França e do Brasil, entre eles a renomada restauradora brasileira Regina Costa Pinto Moreira, que vive na França desde a década de 1970 e já realizou restauros para diversas instituições europeias, contratada do Museu do Louvre de Paris.

Reproduzimos abaixo um fragmento de um dos importantes textos publicados no livro/catálogo da exposição, e que representa uma das raras obras dedicadas ao mêtier da restauração no Brasil.

 

A restauração da pintura por Regina da Costa Pinto Moreira, Karen Barbosa e Pierre Curie

 

Estado da pintura antes da intervenção

Inicialmente é importante ressaltar que não existe nenhum histórico de restaurações da obra antes da sua aquisição pelo Masp. A pintura pertenceu a coleções prestigiosas, desde coleções reais da Espanha, coleção Cook na Inglaterra até a galeria Wildenstein en Nova York, passando de um proprietário a outro e recebendo os cuidados de conservação e restauração habituais, atenções devidas a uma obra-prima reconhecida como tal desde sempre, mas que foram muito prejudiciais à sua integridade física e estética. é difícil data ou estabelecer uma cronologia precisa dessas intervenções, pois elas aconteceram em datas bem distintas. A presença de numerosos emassamentos de coloração e materiais diversos vem corrobar esta hipótese.

Além das observações sobre o suporte, seu envelhecimento e seu tratamento (ver aqui os textos de Elisabeth Ravaud, Emmanuel Joyerot e Jean-Pascal Viala) é conveniente considerar o estudo da camanda pictórica e à apresentação do criterioso tratamento que esta pintura acaba de receber.

A pintura estava coberta por um verniz irregular, espesso e oxidado (amarelecido). Sua degradação provocara chancis (microfissuras do verniz), perdendo a transparência e impedindo a legibilidade da obra, fazendo-a perder toda a sua profundidade. Essa camada de proteção, constituída de vários estratos de verniz sobrepostos, era composta de resinas naturais, cujos componentes não foram identificados. Numerosos depósitos de verniz amarelecido se acumularam nos espaços intersticiais da matéria pictórica. (…)

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Ao longo dos vários meses de trabalho de restauração da pintura, sobre as várias camadas de repintes e vernizes que encobriam o quadro, também reentelado por profissionais franceses,  a grande surpresa do processo foi a aparição de um falo ereto na figura central do quadro, o deus Príapo, da fecundidade e dos jardins, que sofreu, em séculos anteriores, “repinte de pudor”.

Poussin Restauração | Restauration; sob a coordenação científica de Pierre Curie. (ITC/Imprensa Oficial). Livro bilíngue (português/francês), 2009.